Carla Nunes (1971-2022)

Carla Nunes (1971-2022)

A Carla foi aluna de doutoramento do Instituto Superior Técnico e esteve na fundação do CERENA.

Apresentamos sentidas condolencias à família e a quem se cruzou com a Carla.

Partilhamos, em sua homenagem, a mensagem do seu orientador de doutoramento. 

A Carla deixou-nos. 

Entre aqueles que na década de 90 privámos com ela durante o seu doutoramento, a Carla deixou uma marca que é pouco comum: podia acontecer não nos vermos durante um ano, era raro, mas quando nos víamos era como se tivéssemos estado juntos no dia anterior. Esta característica rara assentava em coisas simples da sua personalidade: inteligente, generosa, emotiva, determinada, amiga do seu amigo, uma pessoa de princípios e de causas. 

Vi-a pela primeira vez quando entrou no meu gabinete e, sem eu abrir a boca, “atirou” positivamente para cima da mesa ao que vinha: “quero fazer uma tese de doutoramento na área dos modelos estocásticos consigo mas, aviso-o já, eu não sou engenheira!”. Ela era matemática. A partir daí foi uma relação bonita de 25 anos. Fez uma tese brilhante sobre modelos espácio-temporais, aplicados à qualidade do ar. Pelo meio, ela foi das principais impulsionadoras da marca que ainda hoje perdura no nosso grupo de investigação, a ligação à indústria: empenhou-se na “luta” pela consolidação do nosso centro de investigação da altura (que posteriormente deu origem ao CERENA), era uma das “ativistas” mais tenazes na captação de fundos privados na área do ambiente, andávamos positivamente a bater às portas das empresas, coisa rara pois a maioria dos centros vivia dos projetos, na área do ambiente, da FCT. “Pareces engenheira”, dizia-lhe eu muitas vezes, “Não me chame de engenheira!”. E tinha a mesma motivação e empenho quando era tempo de festas, quando celebrávamos algum projeto ou data que nós achávamos importante. Isto porque tinha uma preocupação constante em agregar as pessoas. 

Depois do Técnico, a Carla seguiu o seu caminho, entrou para ENSP e, sem qualquer surpresa para mim, foi professora catedrática muito jovem naquela escola, que chegou a dirigir. Construiu lá um currículo verdadeiramente invejável que culminou, nos anos mais recentes, no seu papel fundamental na comissão de peritos que apoiava o governo da república no combate à pandemia da covid 19. 

Estupidamente, estas coisas acontecem sempre de um modo estúpido quando as pessoas são novas, a Carla deixou-nos. O nosso centro ficou mais pobre e os amigos mais sós. Resta-nos o consolo de que, ter na lembrança uma personalidade como a dela, é um privilégio de poucos. 

Amílcar Soares

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